Sobre meu encontro Antonio Carlos Rocha
12 avril 2024

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DE CARVALHO ROCHA Eduardo
Hommages
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Conheci Antonio Carlos nos idos anos 80 quando comecei meus estudos de Lacan. Nessa época essa introdução já se marcava por cortes. Um deles com a antropologia clínica por onde buscava abrigo contra o imperialismo kleiniano, e outro com um analista que tinha sido uma inspiração para uma clínica do laço social, mas que não radicalizava a contribuição lacaniana à obra de Freud. O encontro com Antonio foi concomitante ao encontro com uma outra transmissão de Lacan, também forte e cortante, contudo, já estruturada como um ensino de escola. A posição de Antonio sempre foi a de que cada um fizesse sua própria experiência de leitura dos seminários e escritos, e que a compartilhasse com seus pares. Sua aposta era que a enunciação de Lacan se transmitiria de dentro da leitura que cada um se lançasse a fazer. Essa posição se transmitiu a mim em análise e não em grupos de estudo que ele tinha à época. Essa posição foi o princípio de um laço de trabalho com outros colegas, aí incluídos vários da Ali, e foi determinante para a fundação do Tempo Freudiano. Tempo inaugural de uma cooperação fértil que ele, de seu lugar, cuidou com esmero. Um esmero tão grande que se transformou em desmedida. E toda hybris é disruptiva.

Apesar dos efeitos disruptivos, estes não apagaram aquela posição fundamental que ele soube, durante bastante tempo, garantir para muitos, isto é, que a psicanálise a partir de Lacan é uma radicalidade única na humanidade. E que só faz corpo na cultura por atos.