Sobre meu encontro Antonio Carlos Rocha

 

Conheci Antonio Carlos nos idos anos 80 quando comecei meus estudos de Lacan. Nessa época essa introdução já se marcava por cortes. Um deles com a antropologia clínica por onde buscava abrigo contra o imperialismo kleiniano, e outro com um analista que tinha sido uma inspiração para uma clínica do laço social, mas que não radicalizava a contribuição lacaniana à obra de Freud. O encontro com Antonio foi concomitante ao encontro com uma outra transmissão de Lacan, também forte e cortante, contudo, já estruturada como um ensino de escola. A posição de Antonio sempre foi a de que cada um fizesse sua própria experiência de leitura dos seminários e escritos, e que a compartilhasse com seus pares. Sua aposta era que a enunciação de Lacan se transmitiria de dentro da leitura que cada um se lançasse a fazer. Essa posição se transmitiu a mim em análise e não em grupos de estudo que ele tinha à época. Essa posição foi o princípio de um laço de trabalho com outros colegas, aí incluídos vários da Ali, e foi determinante para a fundação do Tempo Freudiano. Tempo inaugural de uma cooperação fértil que ele, de seu lugar, cuidou com esmero. Um esmero tão grande que se transformou em desmedida. E toda hybris é disruptiva.

Apesar dos efeitos disruptivos, estes não apagaram aquela posição fundamental que ele soube, durante bastante tempo, garantir para muitos, isto é, que a psicanálise a partir de Lacan é uma radicalidade única na humanidade. E que só faz corpo na cultura por atos.