Inteligência artificial, catástrofe natural?
Inteligência artificial, catástrofe natural?
Há décadas que ela nos acompanha, seja para selecionar os códigos postais a fim de encaminhar mais rapidamente nossas cartas de amor ou, é claro, em nossos GPS, para que nossos trajetos de carro sejam mais simples. Ela nos é bem útil e se generaliza sem fazer alarde: todos os nossos telefones são smart atualmente. Mas o ChatGPT (aconselha-se a pronúncia inglesa), a última versão da inteligência artificial, preocupa. Com ou sem razão?
Esse robô de conversa foi construído a partir dos trabalhos de Frege, Pierce, Russel, Gödel, Cantor, entre outros, que os psicanalistas conhecem bem. Sabemos, aliás, que Lacan se interessou pela cibernética. Será que podemos por isso dizer que esse grande chat responde a Turing, que se perguntava em 1950 se as máquinas podiam pensar? Será que ele faz melhor do que Eliza, robô que tomava o lugar de um psi rogeriano bastante caricatural, já em 1964, que se contentava em relançar o interlocutor?
As capacidades do ChatGPT vão bem mais longe e dividem os pensadores do mundo: ele pode em poucos instantes escrever uma tese com referências bibliográficas, pode fazer qualquer tarefa escolar. Denunciado como “plágio High Tech” por Chomsky, que diz que isso mata a aprendizagem, o robô foi proibido pela Sciences Po (Instituto de Estudos Políticos de Paris) e nosso ministro da educação quer enquadrá-lo. Velha Europa desconfiada versus entusiasmo de americanos e chineses (cujas universidades utilizam e domesticam o gato selvagem)?
O que teria dito disso Lacan, que se interessou pela cibernética em seu tempo? E Melman, teria ele nos incitado a matar esse mensageiro de uma nova economia psíquica ou a jogar com ele? Uma coisa é certa, esse novo pharmakon merece nosso interesse clínico pois está perturbando a transmissão de conhecimento, ao mesmo tempo que modifica nossa relação à letra. Será esse texto sem inconsciente e sem corpo uma oportunidade para dar mais lugar à enunciação, à expressão oral? Isso é o copo meio cheio.
Omar Guerrero
pela Direção da ALI.