Com a condição de se servir dele
Com a condição de se servir dele
O Seminário de Inverno sobre o amor que acabou de acontecer parece ter entusiasmado uma boa parte dos 350 participantes, pela primeira vez mais numerosos na sala do que na tela.
Há, sem dúvida, várias razões para isso: o tema, fecundo ainda que geralmente rebelde a uma análise rigorosa; o desdobramento de diferentes campos- a criança, a família, a mística, a loucura, o sexo, entre outros; a contribuição de colegas de gerações diferentes e sempre atentos à clínica; o engajamento dos debatedores em realmente abrir as discussões; enfim, a constatação de que menos de três meses após o falecimento de Charles Melman, o trabalho na ALI mantinha-se em seu ímpeto e no rastro daquele de seu fundador.
Será que esse ímpeto perderá fôlego? As últimas jornadas não dão essa impressão, e tampouco as conversas que tive recentemente com inúmeros colegas. Charles Melman, em todo caso, fez o que pôde para que a ALI continue o trabalho depois dele. Ele nos alertou frequentemente sobre as vicissitudes da história da psicanálise, sobre os perigos que acompanham a morte de um fundador, sobre a tolice e a covardia sempre possíveis e até mesmo prováveis.... Ele também criou um Diretório e um Decanato para ajudar a Diretoria em sua tarefa e permitir uma governança mais coletiva de nossa Associação. Ele acima de tudo nos deixou um ensino de uma riqueza inigualável desde Lacan.
Sem dúvida, para parafrasear uma célebre frase de Lacan, inúmeros colegas entre seus alunos vão agora, cada um à sua maneira, tratar de prescindir de Melman com a condição de se servir dele... Isso já foi ouvido em nosso Seminário de Inverno, de forma encorajadora. Em um editorial de setembro de 2021 ele escreveu: “Danado Lacan! Nunca dialogamos tanto com ele quanto depois que ele morreu e fizeram-no mais eloquente do que quando estava confortavelmente acomodado em sua poltrona”. Uma vez mais a visada era certeira, e não unicamente no que diz respeito a Lacan...... As ocasiões de verificar uma vez mais a pertinência de tais diálogos não faltarão nos anos por vir.
Bom ano a todos e à nossa Associação.