Eu lhes peço desculpas
Eu lhes peço desculpas
É necessário pedir à Direção para que abra em nosso site o registro dos pedidos de desculpas. Quem não pecou e ao mesmo tempo prejudicou seu próximo? Se virmos, aliás, o estado em que este se encontra, deve ter sido um grande pecado. Vocês objetarão que agora não se trata mais de uma falta (faute) moral, mas física, e que o dano é da ordem do domínio civil e não mais ético. A pena deve ser, portanto, proporcional e condenar à exclusão, à morte social, e não mais a um tormento interior banal que se consegue, além do mais, transformar em fonte de gozo, o atrativo do erro (faute). Vocês notarão, pois, que o seu pedido obrigatório de desculpas não será satisfeito, mas será considerado equivalente a uma confissão, anunciando a guilhotina.
É, assim, uma sociedade enfim purificada que se anuncia, neste caso limpa do sexo que nos fez tanto mal – ou melhor dizendo, que é o próprio mal. Opositores ainda haverá, dirão que é o próprio das sociedades totalitárias submeter a regra moral à lei da cidade. Mas o sucesso desta não estará em estabelecer uma igualdade finalmente perfeita ao substituir por consultórios completamente neutros aqueles que a divisão homem-mulher continua a colocar lado a lado?
Espero que essas especulações não me levem a ser desmontado por uma “feminista” içada ao meu lugar na sela do meu cavalo, ainda que se trate, notem bem, de uma situação que sempre encontrou uma certa indulgência, de modo que nos perguntaríamos se a purificação em curso não estaria ligada à tradicional guerra dos sexos.
Não posso assumir o risco de responder, mas peço-lhes desculpas se os aborreci.
Charles Melman
08 de outubro de 2021
Les responsables pour la traduction sont Eduardo Rocha, Monica Magalhães, Maria Idália de Góes, Simone Gryner e Marcelo J.de Moraes (cartel de traduction du Espaço-Oficina de Psicanálise)