Morte, luto e Cia
Morte, luto e Cia
Eu me peguei lendo regularmente o obituário do jornal para ver se eu figurava nele. O humor aparente dessa curiosidade pode ser uma introdução, como de hábito, à seriedade da anedota.
É com efeito corriqueiro que a homenagem prestada junto à sepultura seja um ápice da hipocrisia e, sobretudo, uma ilustração de nossa reticência em conceber o luto.
A perda do objeto querido é, com efeito, a condição quase alegre de nosso acesso à vida, e inicia um diálogo com ele que o perpetua (significante admirável) por toda a eternidade.
Ele nunca esteve tão presente (real) e eloquente (simbólico) como agora. Falta-lhe apenas o imaginário de um corpo, pelo que podemos querer agradecer-lhe como se isso fosse o sacrifício esperado de sua parte. Lacan deve ter dito em algum lugar que o luto é sempre o do objeto que se tinha sido para aquele que acabou de morrer. Não é, portanto, a ocasião de uma alegria envergonhada que é preciso tentar dissimular, mas o abandono e tristeza, egoísta, nos confins da melancolia.
Que danado esse Lacan!! Nunca dialogamos tanto com ele quanto depois que ele morreu e foi tornado mais eloquente do que quando ele estava acomodado em sua poltrona.
Charles Melman
13 de setembro 2021
Les responsables pour la traduction sont Eduardo Rocha, Monica Magalhães, Maria Idália de Góes, Simone Gryner e Marcelo J.de Moraes (cartel de traduction du Espaço-Oficina de Psicanálise)