Marcel
Marcel
Eu acabei de saber esta manhã da morte de Marcel durante a noite, levado de emergência para o hospital. É assim, não posso fazer nada, é o meu último irmão que se vai, sem que pudéssemos nos despedir. É verdade que ele já havia me deixado há algum tempo, não a nós da Associação a que estava vinculado por inúmeros laços, mas a mim e ao mesmo tempo às marcas de origem, de cultura, senão de língua, de aprendizagem, de trabalho que nos ligavam. Tolamente tentei fazer com que ele produzisse em público os elementos do diferendo que parecia ter em relação às nossas referências. Como de costume, é o orgulho que é atingido quando se tenta restabelecer uma comunidade de trabalho.
Aqueles que conheceram seu gabinete em Henri-Rousselle sabem que ele o tinha arrumado como se fosse a sala de estar de seu apartamento. Era assim, Marcel só se sentia em casa com a condição de estar em casa, entre seus móveis, e vivia a Associação como se eu tivesse colocado ali os meus e, portanto, como visitante. Mas onde é que eles estão? Ternura e desperdício são os termos que me vêm para qualificar essa história privada dos desenvolvimentos que Marcel poderia ter-lhe dado no campo da psiquiatria. As gerações futuras irão ignorar que a psiquiatria poderia ter-se reerguido inteiramente se Marcel não tivesse se dedicado a Séglas, Magnan, Clérambault etc., mas estes são aqueles que ele amava. Mas não escolhemos nossos amores, aliás tampouco nossos ódios, e seu acoplamento não muda o profundo pesar deixado pela morte de Marcel. Sarina sabe o quão perto estamos dela.
Adendo
J.P.Beaumont me disse que as pessoas próximas de Marcel em Ste Anne estão se queixando por eu não ter feito um tributo ao seu trabalho. Elas têm toda razão, pois são as minhas críticas a esse respeito que sem dúvida contribuíram para o seu afastamento. Sendo assim, a Associação está obviamente aberta a eles para que possam apresentar esse trabalho e destacar seu valor. Também pode ser a oportunidade, se assim o quiserem, de rever o que podemos esperar das teses lacanianas para revigorar uma psiquiatria cuja prática atual não parece tranquilizadora.
Les responsables pour la traduction sont Eduardo Rocha, Monica Magalhães, Maria Idália de Góes, Simone Gryner e Marcelo J.de Moraes (cartel de traduction du Espaço-Oficina de Psicanálise)