Contardo Calligaris
Contardo Calligaris
Peut être Contardo avait il d’abord choisi la France pour Lacan, pour Barthes, et la vie intellectuelle des années 70. Aucune pointe d’accent, aucune hésitation grammaticale n’aurait pu indiquer qu’il venait d’ailleurs, d’Italie et de Suisse où il avait étudié. Et pourtant ce trajet, ce déplacement d’une langue à l’autre lui conféraient un regard, une curiosité infinie, qui engageaient à la fois une lecture singulière et féconde de la théorie psychanalytique et l’exercice de la psychanalyse.
Le lien d’amitié avec Contardo est pour moi indissociable de la fondation de notre association, des années d’effervescence et de bouillonnement intellectuel qui ont suivi la mort de Lacan en 1981. Avec Charles MELMAN et d’autres psychanalystes lacaniens, il fut l’un des initiateurs, des plus créatifs, du Discours Psychanalytique (Revue dont le premier numéro parut en octobre 1981). Il en proposa et en dirigea le premier thème : « Le Psychanalyste dans la cité », qui resta la ligne de force de toute sa vie en France comme au Brésil.
Aux côtés de C Melman, en juin 1982, pour fonder l’Association Freudienne, il apportait l’enthousiasme, une manière décapante d’aborder tous les sujets, et le désir de désenclaver la psychanalyse lacanienne alors enferrée dans des drames de succession. Il secouait les conformismes avec intelligence et humour et suscitait dans notre groupe un mouvement de pensée joyeux qui nous faisait découvrir les penseurs de notre temps, au-delà des frontières (les réunions de bureau étaient très vives animées de débats contradictoires souvent passionnés). Les journées de travail qu’il organisa telles : « Le Discours de la liberté” ou encore “Les glossolalies” en témoignent. Contardo nous entraînait dans le mouvement des idées de notre temps et il transformait la théorie en véritable outil pour penser et pour vivre dans le monde.
J’ai eu la chance de faire avec un lui un séminaire en 1987 et 1988 que nous avions intitulé, un peu par provocation: « Sur la psychologie féminine ». On y discutait beaucoup, la parole y était en mouvement, c’était son style : pas sans rigueur, inventif, élégant. Nous ne craignions pas de discuter la logique des formules de la sexuation ou de la determination de l’objet du fantasme féminin avec une sorte de liberté dont je lui suis, aujourd’hui encore, reconnaissante. Il savait transmettre la dimension créative qui surgit de tout déplacement, interroger les transformations que nous vivions, les discours qui s’imposaient subrepticement.
Si, après son départ au Brésil, Contardo est devenu l’ami lointain du bout du Monde dont la presse brésilienne nous renvoyait quelques echos, il reste, pour moi, indéfectibement associé, à cette période très heureuse de “ gay savoir” qui animait les premières années de l’Association freudienne.
Martine Lerude
Contardo Calligaris
Quem sabe, talvez o primeiro motivo da escolha da França, para o Contardo, tenha sido Roland Barthes, Jaques Lacan, aquela efervescência intelectual dos anos 1970. Nem um pingo de sotaque estrangeiro, nenhuma hesitação gramatical, nada enfim que pudesse revelar suas origens, a Italia primeiro, depois a Suiça, onde ele estudara. No entanto, esse trajeto, esse transladar de uma língua para outra, é o que lhe proporcionara este olhar, essa curiosidade infinita, alavancando uma leitura singular e fecunda tanto da teoria psicanalítica como da sua práxis.
Para mim, o laço de amizade com o Contardo é indissociável da fundação de nossa Associação, daqueles anos de efervescência e do turbilhão intelectual que se seguiram à morte de Lacan em 1981. Com o Charles Melman e outros psicanalistas lacaniano, Contardo foi um dos responsáveis, entre os mais criativos, da criação da revista Discours Psychanalytique, cujo primeiro numero saiu em outubro de 1981. Foi ele que propôs e deu seguimento ao primeiro tema que era « O psicanalista na Polis », tema esse que foi o carro chefe, o fio condutor de sua vida toda, na França como depois no Brasil.
Junto com Charles Melman, em 1982, ao fundar a Associação Freudiana, ele trouxe seu entusiamo, seu modo de abordar sem tabu todos os assuntos, assim como um desejo de desencalhar a psicanálise lacaniana, que se encontrava então refém de dramas de herdeiros. Contardo sacudia qualquer conformismo, com inteligência e bom humor, proporcionava ao nosso grupo um modo de pensar alegre, em que descobríamos pensadores do nosso tempo, de vários horizontes (e nossas reuniões eram debates que não temiam a contradição, eram discussões apaixonadas).
Ele montou jornadas de trabalho, como « O discurso da liberdade », ou também « As glossolalias », entre outros testemunhos vividos desse espirito. Contardo nos levava par dentro do movimento de ideias da nossa época, e transformava a teoria numa verdadeira ferramenta para pensar e para viver o nosso mundo.
Tive a sorte de animar com ele um seminário entre 1987 e 1988. Um pouco por provocação, tinhamos escolhido o titulo « Sobre a psicologia feminina ». Nele, discutíamos livremente, a palavra ficava em movimento, pois tal era seu estilo : não sem rigor, inventivo, elegante. Não temíamos colocar em debate as formulas da sexuação, a determinação do objeto do fantasma feminino, e até hoje, sou grata a ele pela liberdade que ele proporcionava ali.
Essa dimensão criativa, que surge de toda mudança de lugar, ele sabia transmitir; sabia interrogar as transformações que estávamos vivendo, interrogar aqueles discursos que por vezes se impõem de modo sub repticio.
Quando foi morar no Brasil, ficou sendo o amigo do outro lado do mundo, cujos ecos chegavam pelos jornais brasileiros.
Para mim, ele ficou para sempre fundamentalmente ligado a esse período muito feliz de « gay savoir » o alegre saber que animou nossos primeiros anos da Associação Freudiana.
Martine Lerude