Passagem absurda
A ameaça difusa de morte, o risco de penúria, a periculosidade do vizinho têm produzido bruscamente um clima que aqueles que viveram a ultima guerra conhecem. Entretanto, diferente pela exaltação barulhenta e até mesmo alegre que acomete a opinião e a multiplicação das opiniões, como se o confinamento fosse mais a oportunidade de viver sua singularidade do que partilhar uma sorte comum. Assim, a morte aparecia como uma loteria e não igualitária. De tal maneira que, assiste-se a uma explosão de reivindicações de categorias indiferentes pelo fato de que a satisfação deles dependia de um interesse geral.
O único a dar testemunho disso foi a classe dos profissionais de saúde, tanto mais meritória que parecia largada, abandonada por sua hierarquia e por não poder contar senão com suas improvisações
Nesse ramo também e apesar do anuncio presidencial de que estávamos em guerra, a carência de uma direção das operações era patente.
A própria morte parecia não causar autoridade, mas ser antes uma espécie de besta com quem as pessoas podiam se divertir ao desafiar.
O que concluir disso, senão que a incerteza do que faz o real escava ordinariamente o apelo de uma autoridade soberana. Ela sempre tem sido a solução do populismo.
Denise, que nos faz a gentileza de digitar esse texto, me diz que eu me repito. Tudo bem, e espero que nisso seja apenas eu...
Traduction faite par Leticia Fonsêca
[1] No original, Passage en absurdie : en absurdie não significa nada; pode-se pensar absurdie ‘como se fosse um pais’.