Devemos lavar as mãos?
Devemos lavar as mãos?
Podemos observar uma crise da cultura ocidental marcada pela supressão da transferência monoteísta, que até aqui a fundava, para chegar à multiplicação de opiniões, cada indivíduo tornando-se no extremo, seu próprio ídolo.
É assim que a epidemia atual ilustra, por sua vez, a carência da ciência em lhe dar uma única resposta, lembrando-nos que ela não é mais uma instância feita de uma coleção de personalidades, mais ou menos falantes, a desordem dos comportamentos cujas mídias fomentam o caráter de pânico, as debilidades do poder político tornados incrédulos, pois são tão versáteis quanto seus conselheiros.
Mas, o que é talvez mais espantoso é que a morte ela mesma não parece mais o conceito de um real, ignorado ou bem definido por condutas contestatórias, que se recusam a admitir que seu poder não diverte mais.
Assim, graças à eleição da ciência a título de saber absoluto não há mais nada que sustente, nem mesmo a morte, a menos que sua proporção estatística venha parecer concernir não mais os indivíduos, mas ao conjunto deles.
Quando estivermos nisso, a crise será política e podemos prever o referendo, e porque não, de iniciativa popular, que nos dará um general, nos fará encontrar o sentido do general. Esse será o preço pago pela "cultura" por ter preferido ignorar a psicanálise, Lacan entre outros.
Charles Melman
Traduction faite par Leticia Fonsêca