Os analistas têm um traço ou algo em comum?
A partir do momento em que supostamente resolveram a própria relação transferencial, os analistas parecem, em geral, perdidos, em sua relação com a autoridade. Como se o aspecto de semblante que a transferência na análise revela, os deixasse em seguida desamparados para determinar as regras de sua conduta civil, bem como a validade dos conceitos. Certamente, na análise, a regra de abstinência tinha fixado um limite, feliz por causa do interdito que oferece à tentação da transgressão. Mas, afora isso, nada, à parte a facticidade das regras morais, como osso para roer.
Essa vacuidade parece entreter o gosto deles pela expressão tradicional da autoridade, fálica portanto, e seu exercício na vida de grupo.
É verdade, se contamos com a escrita do discurso psicanalítico, no qual S1 aparece no lugar do mais de gozar. Uma batalha furiosa pode ser empreendida desde então sobre a validação das regras ou dos conceitos. Mas essa argumentação não parece indispensável para sustentar lutas de puro prestígio – em geral não há outra aposta.
Na medida em que suas sociedades são regidas pela lei de 1901, eleições são legalmente previstas, mas a popularidade dos candidatos é complexa. Como o diz Lacan numa nota de rodapé, a confusão é sempre possível entre o 0, a nulidade, e o 1.
A nulidade não seria a verdade do que funda a autoridade? A chance é deixada aqui para muitos.
Certamente a evidência do saber posto neste lugar de mestria (discurso universitário) oculta o fato de que é o não-saber (não confundir com a ignorância) chamado também de inconsciente, que comanda.
Vou então me ater à indicação dada pelo discurso analítico que faz do “a” o objeto que comanda, dito de outro modo, o fantasma de cada um, condenando a vida do grupo a ser como um movimento browniano.
Há uma lei comum aos analistas?
(segue no próximo número)
Ch. Melman - 25 de maio de 2018
Tradução : Amelia Lyra