Freud exerce seu direito

MELMAN Charles
Date publication : 05/06/2018
Dossier : Traduction éditoriaux

 

É notável que os psicanalistas ignorem o Direito. Não apenas porque é raro que eles sejam recrutados a partir dessa formação universitária, mas também porque eles desconhecem em geral aquele que, sem nunca ser nomeado como tal, se impõe a quem quer que esteja engajado em um discurso.

Contudo, é esse que dispõe os lugares dos locutores, do tipo de gozo que disso depende, do sacrifício que isso custa, de seu fracasso em se realizar como homem e mulher. Não é necessário ser jurista para saber que o direito é o que codifica as distribuições que, de outro modo, seriam deixadas ao arbitrário do mais forte. Em diversas circunstancias históricas o Direito pôde assim regrar o funcionamento do Estado mesmo no momento que o poder se assegurasse enfraquecido ou mesmo ausente.

Portanto a análise acrescenta ao Direito dois elementos essenciais, sem ser contudo certo poder enriquecê-lo.

Inicialmente, o fato de que um sujeito, dividido, tem um pé em um campo, o outro no Outro, e que é a divisão social entre mestre e servo, entre [aborrecido e chato], que foraclui o fato de que a castração incide nos dois, e que o gozo não está forçosamente do lado que se imagina. Em seguida encontra-se um discurso que expõe os locutores à guerra para se fazerem reconhecer reciprocamente, expondo o Direito a uma casuística cujo princípio não tem melhor justificativa que as evoluções da opinião pública: é o discurso histérico.

Mas o discurso analítico poderia em troca tornar mais eficaz entre parceiros, um Direito que, ao contrário, seria de princípio? Uma resposta apressada o negará, pois a atração do mais-de-gozar, legitimado além disso por sua vinda ao lugar de mestria, justifica a recusa de todo limite. É preciso portanto passar além do inconsciente para, referindo-se à propriedade que tem a linguagem de impor a castração, tornar o gozo compatível com a manutenção da vida. Do que, naturalmente, se ri alegremente, o culto à consumação.

Mas o fato que retém é que, por uma mistura entre discurso analítico e discurso do mestre o Direito parece faltar radicalmente à vida dos grupos analíticos. Na falta de uma insígnia específica, o desencadeamento das paixões para conquistar aquele do mestre é notável. Em detrimento da disciplina, tornada um pretexto.

Pode-se sustentar que do mesmo modo que um Estado sem Direito está entregue ao capricho de seu mestre, igualmente uma organização sem Direito está à mercê do populismo.

 Ch Melman -  12 de maio de 2018

 

Tradução : Leticia Patriota

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