A viela de Lacan
Em um sábado de julho, fresco e ensolarado, pela manhã, isso devia ser em 1972 ou 1973, Lacan convocou alguns alunos a seu escritório. Ele os recebeu um após outro, instalado de fato em pijama, no leito do quarto anexo, um chalé de tricô nos ombros e um livro nos joelhos, para exigir deles um trabalho a lhe ser entregue em oito dias. Podia-se ver, nessa urgência, a condição de uma continuidade de seu ensino. Sem dúvida ele se surpreendia de que a formidável mistura que ele operava provocasse talvez o turbilhão, mas não a espuma.
Ao menos dois pontos puderam levar a se agitar os aprendizes de marinheiro:
- a demonstração de que o INCS não se reduz à bolha do lapso ou do ato falho, mas dirige integralmente as condutas
- a determinação da vida psíquica, consciente ou não, pela materialidade da ordem da linguagem.
A fuga dos eleitos chamados nesse dia ali por Lacan sem dúvida teve uma incidência sobre o estilo ulterior do Seminário, cada vez menos audível e cada vez mais ornada por imagens, na associação com topólogos que não compreendiam nada; mas tinham pelo menos alguma resposta.
Não se pode recusar em nossa Associação de ter, desde então, dado conta do recado, pelo menos em seu conjunto, o que já é bom.
Ch Melman - 4 de abril de 2018
Tradução : Leticia Patriota