Contardo Calligaris
2021

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JERUSALINSKY Alfredo
Hommages
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Primavera de 1984. Porto Alegre. Contardo Calligaris acaba de entrar na minha casa. Vinha, junto com Charles Melman e Marcel Czermak, a dar uma série de seminários na recém fundada Cooperativa Jacques Lacan. Cooperativa constituida sobre a base dos estudantes do chamado Movimento Psi, e os numerosos grupos de estudo de psicanálise que tinham proliferado no Brasil à partir de 1976- 1977 (anos de migração para o exilio de psicanalistas argentinos) . Alguém fez a piada já no aeroporto:  “1984, mmm… data marcada por Orwell”. Em 1987 a Cooperativa se dissolveu. Contardo  já estava morando em Porto Alegre somando seus grupos de estudo aos já funcionando desde 1977, aos  agrupados sob o nome de Mayêutica  na Sociedade de Psicologia do Rio Grande do Sul, aos reunidos na Associação Psicanálise e Grupo de POA.

Cinco anos depois (1989)  Contardo Calligaris lidera uma reunião com a presença de Maria Angela Brasil, Alduisio Moreira de Sousa e Alfredo Jerusalinsky – todos fortemente transferenciados com a então chamada Association Freudienne Internationale – onde se propõe a dissolução dos grupos acima nomeados para a fundação da Associação Psicanalítica de Porto Alegre. Em 17 de dezembro desse ano funda-se APPOA com a adesão de mais de quarenta jovens psicanalistas na condição de membros fundadores. Por unanimidade é nomeado seu primeiro presidente: Contardo Luigi Calligaris quem, nos anos seguintes, se constituiu como referente para a formação das novas gerações de psicanalistas e como audacioso explorador das mais complexas articulações entre o sujeito e o discurso, entre o sujeito do inconsciente e o ato clínico, e das transformações e riscos das novas formas de desdobramento do laço social.

Conversamos com ele no domingo último. Juntos lembramos de sua últimaa conferencia em Fronteiras do pensamento: ”O sentido da vida”. Nela Contardo evocava a condição de médico partisano de seu pai durante a 2da.guerra. Aí eu lhe disse que ele era igual a seu pai: um partisano das palavras. Ele riu através da máscara.

Foi nossa despedida.

Alfredo Jerusalinsky


Nous étions au printemps 1984, à Porto Alegre. Contardo Calligaris venait  d’entrer dans ma maison. Il arrivait avec Charles Melman et Marcel Czermak pour donner une série de séminaires dans la Coopérative Jacques Lacan qui venait d’être fondée. Cette Coopérative avait été constitué avec les élèves du dénommé Movimento Psi et par ceux des nombreux groupes d’étude de psychanalyse qui avaient proliféré au Brésil à partir de 1976-1977 (les années d’immigration pour cause d’exil des psychanalystes argentins).

Dès l’aéroport, quelqu’un a lancé la blague : « 1984, mmh…. date marquée par Orwell ! ». En 1987, la Coopérative a été dissoute. Contardo habitait déjà à Porto Alegre et il additionnait ses groupes d’études à ceux qui fonctionnaient depuis 1977, à ceux qui se regroupaient sous le nom de Mayêutica dans la Société de Psychologie du Rio Grande do Sul, à ceux réunis dans l’Association Psychanalyse et Groupe de Porto Alegre.

Cinq ans plus tard (1989) Contardo Calligaris anime  une réunion en présence de Maria Angela Brasil, Alduisio Moreira de Sousa et Alfredo Jerusalinsky – ayant tous un fort transfert envers la l’Association qui s’appelait alors Freudienne Internationale – il y est proposé la dissolution des groupes nommés ci-dessus dans le but de fonder l’ Associaçao Psicanalitica de Porto Alegre. Le 17 décembre de cette année est fondée l’APPOA avec l’adhésion de plus de quarante jeunes psychanalystes en tant que Membres Fondateurs. À l’unanimité, Contardo Luigi Calligaris est nommé premier président. Il devient, dans les années suivantes, la référence pour la formation des nouvelles générations de psychanalystes et l’audacieux explorateur des articulations les plus complexes entre le sujet et le discours, entre le sujet de l’inconscient et l’acte clinique, ainsi que des transformations et des risques des nouvelles formes de redéploiement du lien social.

Nous en avons parlé ensemble dimanche dernier. Nous nous sommes remémorés sa dernière conférence dans les Frontières de la Pensée : « Le sens de la vie ». Contardo y  évoquait la condition de son père pendant la deuxième guerre en tant que  médecin partisan. Je lui ai alors dit qu’il était comme son père : un  partisan  des paroles. Il a ri derrière son masque.

Cela a été notre au revoir.

Alfredo Jerusalinsky