O psicanalista está certamente mais desarmado diante da promoção contemporânea do sentido e da reivindicação. O que responder, de fato, a esta dominação do Um, já que é disso que se trata, que constitui a nossa psicopatia mais comum?
Ele só pode opor a essa dominação a des-sentido – por que não escrever no feminino? – a que sua prática o destina. Ela engaja o sujeito a situar o Um em tensão entre:
– o ao-menos-um, ou a função lógica da exceção, sem a qual não poderíamos falar;
– e o um entre os outros, onde se extravia regularmente a rivalidade imaginária.
O modo operatório da prática se chama aqui transferência. É realmente preciso passar por ela para dividir um pouco a nossa relação com o Um: em efeitos de sentido, por exemplo, bem diferentes do sentido uniano, e com que Lacan não cessa de jogar em seu seminário.
Mas justamente, é a transferência em si mesma que causa escândalo hoje: enfim, não é indecente?
Mais uma razão para voltar muito em breve a trabalhá-la na associação.
Bom verão!
Des-sentido (???) [Dé-sens = décence. Parece-nos que o texto brinca com a homofonia em francês entre o neologismo “dé-sens” [des-sentido] e a palavra “décence” [decência]. Daí inclusive, supomos, o seu uso no feminino, no segundo parágrafo, e a referência à “indecência” do “escândalo” causado pela transferência, no final do texto]